O horizonte dos novos desbravadores
Atraídos pelas terras ainda baratas, os produtores estão abrindo fronteiras agrícolas em regiões ainda remotas do País, levando o sonho de construir grandes fortunas rurais
Por Eduardo Savanachi, de Uruçuí (PI), e Ibiapaba Netto
Se comparado a Mato Grosso, onde o lucro será de aproximadamente R$ 100 por hectare, as terras do Piauí chegam a parecer milagrosas. Fianco segue seu destino inspirado na história de desbravadores que num passado não tão distante fizeram história ao ingressar no chamado Brasil profundo e lá fizeram brotar a riqueza máxima da terra. Em Mato Grosso, maior celeiro de grãos do País, isso aconteceu entre as décadas de 1960 e 1970 e a história mais emblemática é a de André Maggi, pai do hoje governador Blairo Maggi, o rei da soja. André se tornou uma espécie de “lenda” no Centro-Oeste e as suas aventuras, dormindo em barracas de lona e mesmo na luta com índios “bravios”, até hoje ecoam nos corredores do que se tornou a maior trading brasileira, o Grupo Amaggi, com faturamento de quase R$ 2 bilhões ao ano. “É uma inspiração”, diz Fianco. E, assim como ele, centenas de produtores, em diferentes regiões do País, se entranham nas chamadas fronteiras agrícolas em busca de oportunidades que só estarão disponíveis para aqueles que possuem espírito empreendedor e coragem para arriscar. Mas isso não é o que pode se chamar de uma missão fácil, como se verá nas histórias a seguir.
Ao mesmo tempo que é um problema, a logística também é o que reforça a esperança para fazer não apenas do Paiuí, mas de outras novas fronteiras agrícolas, como Maranhão, Tocantins e Bahia, polos desenvolvidos de produção. A chegada da ferrovia Transnordestina, cujos investimentos somam R$ 5 bilhões, é vista como um divisor de águas para essas novas regiões produtoras. “O primeiro trecho deverá ser entregue até o final de 2010 e representará um grande avanço para a nossa agricultura”, revela o governador do Piaui, Wellington Dias, à DINHEIRO RURAL
R$ 1.370 É quanto se gasta para abrir um hectare de terra numa fronteira agrícola
Mas não é só a questão logística que empaca o crescimento dessas regiões. Outro ponto delicado é o aspecto ambiental, já que é preciso desmatar áreas para abrir espaço para novas lavouras. “Todas as áreas que estão sendo abertas possuem licenças, averbações legais e respeitam as Áreas de Proteção Permanente (APP). Mas há pessoas que não percebem que existe uma lei e que ela está sendo cumprida. Nós temos direito de desenvolver a nossa produção”, pondera o presidente da Federação de Agricultura e Pecuária do Estado do Piauí (Faepi), Carlos Augusto Cunha. Para ele, a chegada de produtores experientes é um ganho para a região. “Esses agricultores que estão aqui já possuem experiências em outras terras e, como aprenderam com os erros, são profissionais. As novas áreas do Nordeste estão sendo abertas da forma que deveria ter sido feita no Centro- Oeste”, provoca.
Mesmo com esses entraves, a produção de grãos cresce a cada ano no Estado. A explicação está na alta produtividade, no bom preço recebido pela soja, cerca de R$ 42 a saca, e no baixo custo de produção, de pouco mais de R$ 1 mil por hectare. Aspectos como esses levaram o governo estadual a implantar um projeto que pretende incentivar a vinda de produtores de outros Estados, principalmente do Rio Grande do Sul, para assim elevar a produção de Roraima. “Nossa expectativa é de que em três anos aumentemos em 17 mil hectares nossa área de grãos, um crescimento de 30%”, conta o secretário de Agricultura de Roraima, Eugênio Thomé.
Medidas como essa não são inéditas. Nas décadas de 1960 e 1970, os produtores que recebiam seus títulos de posse em Mato Grosso e, anos antes, no oeste de Santa Catarina, tinham metas de desmatamento a cumprir. Quem não estivesse em dia com as obrigações poderia até perder a posse da terra.
Hoje, todas essas novas regiões agrícolas têm de começar da forma correta, caso contrário terão de se ajustar posteriormente, conforme explica Sérgio Pit, presidente da Associação dos Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba). Pit é cotonicultor em Luis Eduardo Magalhães, região ainda conhecida como uma promissora fronteira agrícola e que tem atraído grandes investidores de todo o mudo. “Havia muita desinformação e fizemos um pacto ambiental que engloba toda a região”, explica. Perto dali, em Riachão das Neves (BA), Ademar Marçal é outro produtor que trocou a tranquilidade de Mato Grosso do Sul pelo Cerrado ainda na década de 1990. “No primeiro voo de avião que fiz aqui na região, fiquei impressionado com esta imensa chapada”, relembra.
R$ 5 bilhões São os investimentos na transnordestina, que funcionará em 2010
De volta ao Piauí, Fianco, o agricultor que sonha em ser grande, faz as suas previsões. “Daqui a dez ou 15 anos, isso aqui será uma potência maior do que o oeste da Bahia é hoje.” Há dez anos, a área plantada no Estado era de pouco mais de 700 mil hectares e sua produção anual de grãos não ultrapassava as 500 mil toneladas. Hoje o agronegócio é parte fundamental da economia piauense, com faturamento de R$ 4,5 bilhões, 30% do PIB estadual. Com uma produção que cresce a uma taxa média de 14% ao ano, na safra 2009/2010 sua área deve chegar a um milhão de hectares. Isso é o que faz do Estado uma das principais regiões produtoras do Nordeste, ao lado de Bahia e Maranhão. “Nessas terras está o futuro da agricultura brasileira. Ainda temos mais de três milhões de hectares disponíveis para a produção”, exalta o produtor, que sonha em ser o André Maggi de amanhã.
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